terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sobre política e jardinagem...


"Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como
sacramento, para que as crianças aprendam que o
mundo pode ser diferente. Que a escola,
ela mesma, seja um fragmento do
futuro..."


Encontro muito do que penso e acredito nas palavras do Rubem Alves,
 e como de costume utilizo seus textos e sua sabedoria.

SOBRE POLÍTICA E JARDINAGEM

De todas as vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer "chamado". Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um "fazer". No lugar desse "fazer" o vocacionado quer "fazer amor" com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.

"Política" vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.

Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oases. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu "o que é política?", ele nos responderia, "a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas".
O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.
Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes-ia o grande jardim para todos. Seria indigno que o jardineiro tivesse um espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.
Vocação é diferente de profissão. Na vocação a pessoa encontra a felicidade na própria ação. Na profissão o prazer se encontra não na ação. O prazer está no ganho que dela se deriva. O homem movido pela vocação é um amante. Faz amor com a amada pela alegria de fazer amor. O profissional não ama a mulher. Ele ama o dinheiro que recebe dela. É um gigolô.
Todas as vocações podem ser transformadas em profissões O jardineiro por vocação ama o jardim de todos. O jardineiro por profissão usa o jardim de todos para construir seu jardim privado, ainda que, para que isso aconteça, ao seu redor aumente o deserto e o sofrimento.
Assim é a política. São muitos os políticos profissionais. Posso, então, enunciar minha segunda tese: de todas as profissões, a profissão política é a mais vil. O que explica o desencanto total do povo, em relação à política. Guimarães Rosa, perguntado por Günter Lorenz se ele se considerava político, respondeu: "Eu jamais poderia ser político com toda essa charlatanice da realidade... Ao contrário dos 'legítimos' políticos, acredito no homem e lhe desejo um futuro. O político pensa apenas em minutos. Sou escritor e penso em eternidades. Eu penso na ressurreição do homem." Quem pensa em minutos não tem paciência para plantar árvores. Uma árvore leva muitos anos para crescer. É mais lucrativo cortá-las.
Nosso futuro depende dessa luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de serem confundidos com gigolôs e de terem de conviver com gigolôs.
Escrevo para vocês, jovens, para seduzi-los à vocação política. Talvez haja jardineiros adormecidos dentro de vocês. A escuta da vocação é difícil, porque ela é perturbada pela gritaria das escolhas esperadas, normais, medicina, engenharia, computação, direito, ciência. Todas elas, legítimas, se forem vocação. Mas todas elas afunilantes: vão colocá-los num pequeno canto do jardim, muito distante do lugar onde o destino do jardim é decidido. Não seria muito mais fascinante participar dos destinos do jardim?
Acabamos de celebrar os 500 anos do descobrimento do Brasil. Os descobridores, ao chegar, não encontraram um jardim. Encontraram uma selva. Selva não é jardim. Selvas são cruéis e insensíveis, indiferentes ao sofrimento e à morte. Uma selva é uma parte da natureza ainda não tocada pela mão do homem. Aquela selva poderia ter sido transformada num jardim. Não foi. Os que sobre ela agiram não eram jardineiros. Eram lenhadores e madeireiros. E foi assim que a selva, que poderia ter se tornado jardim para a felicidade de todos, foi sendo transformada em desertos salpicados de luxuriantes jardins privados onde uns poucos encontram vida e prazer.
Há descobrimentos de origens. Mais belos são os descobrimentos de destinos. Talvez, então, se os políticos por vocação se apossarem do jardim, poderemos começar a traçar um novo destino. Então, ao invés de desertos e jardins privados, teremos um grande jardim para todos, obra de homens que tiveram o amor e a paciência de plantar árvores à cuja sombra nunca se assentariam.

Rubem Alves
(Folha de S. Paulo, Tendências e Debates, 19/05/2000.).



terça-feira, 19 de maio de 2015

TODO AQUELE JAZZ




TODO AQUELE JAZZ





Loucos, autodestrutivos, viciados, incompreendidos. Muitos dos maiores músicos de jazz da história receberam ao menos um desses epítetos, como nos mostra Geoff Dyer em Todo aquele jazz. O livro apresenta uma mescla entre ensaio e ficção, criando um romance fragmentado a partir de muita pesquisa histórica. 
Com um olhar afiado, o autor descreve de forma minuciosa os movimentos e descaminhos de artistas como Chet Baker, Duke Ellington, Art Pepper e Thelonious Monk. São gênios retratados em situações-limite, momentos de ruptura, como aquele em que Chet discute com um traficante, ou os devaneios de Art Pepper na cadeia. Dyer se deixa contagiar pelo improviso jazzístico ao compor sua obra, avançando de forma errática pelas tramas que cria, movido pelo sentimento e pelo instinto. Adotando um ponto de vista bastante pessoal e subjetivo, aproxima o leitor dessas figuras míticas da música norte-americana que fizeram a história não apenas do jazz, mas dos Estados Unidos, ao redefinir o espaço do negro em um ambiente dominado pelo racismo. Afinal, segundo Ornette Coleman, “as melhores declarações dos negros a respeito de sua alma foram feitas no saxofone tenor”.

Todo aquele jazz, ao abordar o gênero de uma perspectiva intimista, não apenas oferece um novo olhar para os entusiastas da música de Monk, Mingus e Ellington, mas serve de guia para novatos que se interessam pelo som que parece exigir tanto de seus intérpretes a ponto de consumi-los por completo.*

* Texto extraído do site Companhia das Letras

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

In the Ghetto


In the Ghetto






In the Ghetto ("No Gueto" em português) é uma canção de 1969 gravada por Elvis Presley que tornou-se um de seus maiores sucessos de crítica e público. É uma composição de Mac Davis.

O autor desta música demonstra ter uma grande consciência e relata a história de um jovem da periferia dos Estados Unidos que nasce e pela pobreza e condição social é levado ao crime e a morte prematura.

E a música trás questionamentos importantes como este:

“Então pessoas, vocês não entendem
Que a criança precisa de uma mão solidária?
Ou ela crescerá para ser um jovem homem faminto algum dia
Dê uma olhada em você e em mim
Nós estamos tão cegos para enxergar?
Nós simplesmente viramos nossas caras
E olhamos o outro lado?”


E ele termina a música deixando uma mensagem clara de que o problema se torna um círculo vicioso. Vejam:

“Enquanto seu jovem homem morre
Em uma fria e cinza manhã de Chicago
Outro pobre pequeno bebê uma criança nasce
No Gueto
Enquanto sua mãe chora”.


Segue o vídeo e a letra completa abaixo:



No Gueto
Enquanto a neve cai
Em uma fria e cinza manhã de Chicago
Uma pobre criancinha nasce
No Gueto
E sua mãe chora
Porque se existe uma coisa de que ela não precisa
É de outra boca faminta para alimentar
No Gueto


Então pessoas, vocês não entendem
Que a criança precisa de uma mão solidária?
Ou ela crescerá para ser um jovem homem faminto algum dia
Dê uma olhada em você e em mim
Nós estamos tão cegos para enxergar?
Nós simplesmente viramos nossas caras
E olhamos o outro lado?


Bem, o mundo gira
E um pobre pequeno garoto com um nariz escorrendo
Toca na rua enquanto o vento frio sopra
No Gueto


E sua fome aperta
Então ele começa a vagar nas ruas à noite
E ele aprende como roubar
E ele aprende como lutar
No Gueto


Então uma noite em desespero
Um jovem homem desaparece
Ele compra uma arma, rouba um carro
tenta fugir mas ele não chega longe
E sua mãe chora


Como uma multidão se junta em volta de um irritado jovem homem
Caído na rua com uma arma em suas mãos
No Gueto


Enquanto seu jovem homem morre
Em uma fria e cinza manhã de Chicago
Outro pobre pequeno bebê uma criança nasce
No Gueto
Enquanto sua mãe chora



segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

"Poetruísmo"



"Poetruísmo" 

Charles Dalton

"Rindo, chorando,
caindo, resmungando
Há que fazer mais, há que ser mais
Caos gritando, caos sonhando
Há que fazer mais, há que ser mais"








sábado, 7 de fevereiro de 2015

Cavaleiro Andaluz





Cavaleiro Andaluz


Bruna Caram



















Amanheceu
Um elo entre as civilizações
Um novo Aquiles rompe os grilhões
E a cidade vai conquistar
Não lembra bem
De como aprendeu a lutar
Há tanta gente no calcanhar
Um semi-deus em cada portão

Escapar
A Liberdade dá no Japão
Acrópole é outra visão
Que a Vila Olímpia não alcançou
Decifrar
Há tanta esfinge aqui de cristal
Quanto edifício nesse quintal
Que a erva-cidreira já perfumou

Como emboscar
Dianas nesses bosques que há
Os olhos de Afrodite espiar
Nas fontes desse Parque da Luz
Você zarpou
Na costa da Ligúria bateu
Cruza a Paulista e o solo europeu
Virou meu cavaleiro Andaluz

Se embrenhou
Nesses traçados do coração
Ruelas da avenida São João
Escadarão do Municipal
Surpreendeu
Quem nunca sai da Consolação
Que ao menos na imaginação Um novo mundo existe afinal

Me leva Cavaleiro Andaluz...

A paz sempre há de estar com você...





sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Are You Lonesome Tonight?

 

Are You Lonesome Tonight?



 

 Are You Lonesome Tonight?

 

Are you lonesome tonight? Do you miss me tonight?
Are you sorry we drifted apart?
Does your memory stray To a brighter summer day,
When I kissed you and called you "Sweet heart"?
Do the chairs in your parlour seem empty and bare,
Do you gaze at your doorstep and picture me there?
Is your heart filled with pain? Shall I come back again?
Tell me dear, "are you lonesome tonight"?
I wonder if you're lonesome tonight?
You know, someone said
"The world's a stage, and each must play a part".
Fate had me playing in love with you as my sweetheart,
Act one was when we met; I loved you at first glance.
You read your lines so cleverly,
And never missed a cue then came act two.
You seemed to change; you acted strange, and why? I'll never know.
Honey, you lied when you said
"You loved me" and I had no cause to doubt you.
But I'd rather go on hearing your lies that to go on living without you.
Now the stage is bare, and I'm standing there with emptiness all around
And if you won't come back to me, then they can ring the curtain down.
Is your heart filled with pain? Shall I come back again?
Tell me dear, "are you lonesome tonight"?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Michel Camilo



Michel Camilo








Michel Camilo (Santo Domingo, 4 de abril de 1954) é um pianista de jazz e compositor nascido na República Dominicana.

Segue o vídeo que dispensa maiores apresentações.