quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Pobre de quem acredita na glória e no dinheiro para ser feliz . . .


Saudade da Bahia
Dorival Caymmi






Dorival Caymmi (Salvador, 30 de abril de 1914 – Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2008) foi um cantor, compositor, violonista, pintor e ator brasileiro.



Compôs inspirado pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano.[1] Tendo como forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica. Morreu em 16 de agosto de 2008, aos 94 anos, em casa, às seis horas da manhã, por conta de insuficiência renal e falência múltipla dos órgãos em consequência de um câncer renal que possuía havia 9 anos.[2] Permanecia em internação domiciliar desde dezembro de 2007. Poeta popular, compôs obras como Saudade da Bahia, Samba da minha Terra, Doralice, Marina, Modinha para Gabriela, Maracangalha, Saudade de Itapuã, O Dengo que a Nega Tem, Rosa Morena.




Saudade da Bahia
Dorival Caymmi
 


Ai, ai que saudade eu tenho da Bahia
Ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
"Bem, não vá deixar a sua mãe aflita
A gente faz o que o coração dita
Mas esse mundo é feito de maldade e ilusão"
Ai, se eu escutasse hoje não sofria
Ai, esta saudade dentro do meu peito
Ai, se ter saudade é ter algum defeito
Eu pelo menos, mereço o direito
De ter alguém com quem eu possa me confessar
Ponha-se no meu lugar
E veja como sofre um homem infeliz
Que teve que desabafar
Dizendo a todo mundo o que ninguém diz
Vejam que situação
E vejam como sofre um pobre coração
Pobre de quem acredita
Na glória e no dinheiro para ser feliz


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A música suave


A música suave


aceno com a cabeça e Mozart toca...


a música suave


vence o amor porque nela não há
feridas: pela manhã
a mulher liga o rádio, Brahms ou Ives
ou Stravinsky ou Mozart. ferve os
ovos contando em voz alta os segundos: 56,
57, 58... descasca os ovos, os traz
para mim na cama. depois do café da manhã é
a mesma cadeira e ouvir a música
 clássica. A mulher está no seu primeiro copo de
scotch e no seu terceiro cigarro. digo-lhe
que preciso ir ao hipódromo. ela
está aqui há 2 noites e 2 dias. “quando
voltarei a vê-la?” pergunto. ela
sugere que fique a meu critério.
aceno com a cabeça e Mozart toca

Charles Bukowski



segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Autumn Leaves




  Autumn Leaves




Folhas de outono





                               Autumn Leaves

                              The falling leaves drift by my window
                              The autumn leaves of red and gold
                              I see your lips, the summer kisses
                              The sun-burned hands I used to hold


                              Since you went away the days grow long
                              And soon I'll hear old winter's song
                              But I miss you most of all my darling
                              When autumn leaves start to fall






Folhas de outono

As folhas de outono caem perto da janela
As folhas do outono do vermelho e dourado
Eu vejo seus lábios, os beijos de verão
As mãos bronzeadas de sol, eu costumava segurar

Desde que você foi embora os dias duram mais
E logo eu ouvirei a velha canção de inverno
Mas eu mais sinto falta de você, minha querida
Quando as folhas de outono começam a cair




Outra cama, outra mulher



Outra cama, outra mulher . . .







outra cama
outra mulher

mais cortinas
outro banheiro
outra cozinha

outros olhos
outro cabelo
outros pés e dedos.

todos à procura.
a busca eterna.

você fica na cama
ela se veste para o trabalho
e você se pergunta o que aconteceu à última e à outra antes dela…
é tudo tão confortável - esse fazer amor
esse dormir juntos
a suave delicadeza…

após ela sair você se levanta e usa o banheiro dela, é tudo tão intimidante e estranho.
você retorna para a cama e dorme mais uma hora.

quando você vai embora é com tristeza
mas você a verá novamente quer funcione, quer não.

você dirige até a praia e fica sentado em seu carro. é meio-dia.

- outra cama, outras orelhas, outros brincos, outras bocas, outros chinelos, outros
vestidos, cores, portas, números de telefone.

você foi, certa vez, suficientemente forte para viver sozinho.
para um homem beirando os sessenta você deveria ser mais sensato.

você dá a partida no carro e engata a primeira,
pensando, vou telefonar para Janie logo que chegar,
não a vejo desde sexta-feira.


Bukowski - O Amor É um Cão dos Diabos



domingo, 21 de fevereiro de 2016

O sonho


O sonho




O sonho

Clarice Lispector



Sonhe com aquilo que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida
e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades
que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem
a importância das pessoas que passaram por suas vidas.



sábado, 20 de fevereiro de 2016

Quero inventar o meu próprio pecado, quero morrer do meu próprio veneno...



Cálice
Chico Buarque


  


"Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice
Pai, afasta de mim esse cálice

De vinho tinto de sangue"






"Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano
Que é uma maneira de ser escutado
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa"






"Como beber dessa bebida amarga
Tragar a dor, engolir a labuta
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta

Tanta mentira, tanta força bruta"








"Talvez o mundo não seja pequeno
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça












terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

amo-te como se amam certas coisas obscuras, secretamente, entre a sombra e a alma.


A Dança Soneto de Neruda



"amo-te como
se amam
 certas coisas
obscuras,
secretamente,
entre a sombra

e a alma. "










A Dança/ Soneto XVII

Não te amo como se fosses rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
amo-te como se amam certas coisas obscuras,
secretamente, entre a sombra e a alma.
 

Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta a luz daquelas flores,
 
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascendeu da terra.

Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
 
te amo diretamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
 

senão assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.




Pablo Neruda






segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

As Time Goes By ...


As Time Goes By 










"Luar e canções de amor
Nunca serão obsoletos
Corações enchem-se de paixões
Ciúme e ódio
Mulher precisa de homem
E o homem deve ter sua companheira
Que ninguém pode negar

Ainda é a mesma história
Um combate por amor e glória
Um caso de fazer ou morrer
O mundo sempre dará boas-vindas aos amantes
Como o tempo passa..."









And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by.

Moonlight and love songs
Never out of date.
Hearts full of passion
Jealousy and hate.
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny.










As Time Goes By

Tema de Casablanca

You must remember this
A kiss is just a kiss, a sigh is just a sigh.
The fundamental things apply
As time goes by.

And when two lovers woo
They still say, "I love you."
On that you can rely
No matter what the future brings
As time goes by.

Moonlight and love songs
Never out of date.
Hearts full of passion
Jealousy and hate.
Woman needs man
And man must have his mate
That no one can deny.

It's still the same old story
A fight for love and glory
A case of do or die.
The world will always welcome lovers
As time goes by.

Oh yes, the world will always welcome lovers


As time goes by.

domingo, 14 de fevereiro de 2016

E por falar em saudade, onde anda você



Onde Anda Você
Vinicius de Moraes

 


E por falar em saudade
Onde anda você
Onde andam os seus olhos
Que a gente não vê
Onde anda esse corpo
Que me deixou morto
De tanto prazer

E por falar em beleza
Onde anda a canção
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
Onde a gente ficava
Onde a gente se amava
Em total solidão

Hoje eu saio na noite vazia
Numa boemia sem razão de ser
Na rotina dos bares
Que apesar dos pesares
Me trazem você

E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares

Onde anda você

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

O melhor é melhor ser...




Eu declamaria Camões e ouviria Yanni...


Sobre estes lugares que nos inspiram

"Coisas impossíveis, é melhor esquecê-las que desejá-las."
Camões






Amor é um Fogo que Arde sem se Ver

Amor é um fogo que arde sem se ver; 
É ferida que dói, e não se sente;
 
É um contentamento descontente;
 
É dor que desatina sem doer.
 

É um não querer mais que bem querer;
 
É um andar solitário entre a gente;
 
É nunca contentar-se e contente;
 
É um cuidar que ganha em se perder;
 

É querer estar preso por vontade;
 
É servir a quem vence, o vencedor;
 
É ter com quem nos mata, lealdade.
 

Mas como causar pode seu favor
 
Nos corações humanos amizade,
 
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
 


Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"








“E sou já do que fui tão diferente
Que, quando por meu nome alguém me chama,
Pasmo, quando conheço
Que ainda comigo mesmo me pareço.”


"Dava-lhe o vento no chapeirão,
Quer lhe dê, quer não.

Bem o pode revolver,
Que o vento não traz mais fruito;
E mas vento é sentir muito
O que, enfim, fim há-de ter.
O melhor é melhor ser
Que o vento no chapeirão,
Quer lhe dê, quer não."

"E por tão triste me tenho
Que, se sentisse alegria,
De triste, não viveria.
Porque ,a tal sorte vim,
Que não vejo bem algum
Enquanto vejo,
Que não nasceu pera mim;
E por não sentir nenhum,
Nenhum desejo."


Luiz Vaz de Camões( poeta português - 1524-1580)





quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Não te quero senão porque te quero



Não te quero




Não te quero senão porque te quero,
e de querer-te a não te querer chego,
e de esperar-te quando não te espero,
passa o meu coração do frio ao fogo.
Quero-te só porque a ti te quero,
Odeio-te sem fim e odiando te rogo,
e a medida do meu amor viajante,
é não te ver e amar-te,
como um cego.

Tal vez consumirá a luz de Janeiro,
seu raio cruel meu coração inteiro,
roubando-me a chave do sossego,
nesta história só eu me morro,
e morrerei de amor porque te quero,
porque te quero amor,
a sangue e fogo.


Pablo Neruda

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Se tu amas, excede pela delicadeza



Se tu amas, excede pela delicadeza



Há ajuda e esperança em outros encantamentos. Sabedoria diz: sê forte! Então tu podes suportar mais prazer. Não seja animal; refina teu êxtase! Se tu bebes, beba pelas oito e noventa regras de arte: se tu amas, excede pela delicadeza; e se tu fazes qualquer coisa prazerosa, que haja fineza nisto!


 Mas exceda! exceda!


Epicurismo

Epicurismo é um sistema filosófico, que prega a procura dos prazeres moderados para atingir um estado de tranquilidade e de libertação do medo, com a ausência de sofrimento corporal pelo conhecimento do funcionamento do mundo e da limitação dos desejos.
No entanto, quando os desejos são exacerbados podem ser fonte de perturbações constantes, dificultando o encontro da felicidade que é manter a saúde do corpo e a serenidade do espírito.
Epicurismo é um sistema criado por um filósofo ateniense chamado Epicuro de Samos no século IV a.C. Existem vários fundamentos básicos do Epicurismo, porém, se distingue o desejo para encontrar a felicidade, buscar a saúde da alma, lembrando que o sentido da vida é o prazer, objetivo imediato de cada ação humana considerando sem sentido as angústias em relação à morte, e a preocupação com o destino.
Os seguidores do epicurismo são chamados de epicuristas e, de acordo com o sistema filosófico, devem procurar evitar a dor e as perturbações, levar uma vida longe das multidões (mas não solitário), dos luxos excessivos, se colocando em harmonia com a natureza e desfrutando da paz.
Outro valor defendido pelo epicurismo e seus defensores é a amizade. A amizade traz uma grande felicidade para as pessoas, já que a convivência pode ocasionar uma troca saudável de pensamentos e opiniões enriquecedoras.
Segundo Epicuro, o criador do epicurismo, as pessoas não podem viver de forma agradável se não forem prudentes, gentis com os outros e justas em suas atitudes e pensamentos sem viver prazerosamente. As virtudes então devem ser praticadas como garantia dos prazeres.

Estoicismo

O estoicismo é uma doutrina da filosofia nascida na Grécia, que afirma que todo o universo é governado por uma razão universal divina que ordena todas as coisas, onde tudo surge a partir dele e de acordo com ele. O estoicismo propõe que os indivíduos vivam de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença.
O estoicismo possui duas consequências éticas: uma é que a pessoa deve viver conforme a natureza, e a segunda é que um homem sábio torna-se livre e feliz quando não se deixa escravizar pelas paixões e pelas coisas externas.