A tristeza de Lisa e o saxofone...
(...) "Mas meu país é isso", Lisa declama excitada. "Estou lamentando pelo homem sem teto vivendo no carro, o fazendeiro de Iowa cuja terra foi tomada pelos burocratas sem coração, o mineiro de West Virgínia, pego..." (...)
O que faz de Lisa mais do que uma criança boazinha é o fato de ela ser uma pessoa extremamente sensível, com um grande desejo de felicidade pessoal. A natureza conflitante do dever moral, com sua tendência a exigir o sacrifício pessoal, é devidamente representada aqui em toda a sua pungência. Ela recebe todo o sofrimento que um compromisso com um princípio predeterminado pode criar numa criança precoce e sensível. Seu profundo amor pela vida e pela beleza, aliado a um não menos profundo compromisso com a verdade e a bondade, manifesta-se nas frustrações e tristezas que ela expressa nos sons tristes e melancólicos do saxofone, tocando jazz. Kant afirma que a beleza e a arte convertem em uma presença sensual as possibilidades de uma vida moral superior. Quando a vida real parece dar pouca ou nenhuma atenção a tais possibilidades, o doloroso grito da alma de Lisa encontra uma válvula de escape na lamúria do saxofone. No personagem de Lisa, a comédia de Os Simpsons não permite esquecer uma profundidade da tragédia.
No episódio "Moaning Lisa", Lisa tem dificuldade em aceitar o patriotismo convencional . Numa aula de música, em vez de tocar as notas simples de "My Country 'Tis f Thee", Lisa improvisa um tocante solo de jazz. "Não tem essa barulheira em "My country 'Tis of Thee", diz o professor. "Mas meu país é isso", Lisa declama excitada. "Estou lamentando pelo homem sem teto vivendo no carro, o fazendeiro de Iowa cuja terra foi tomada pelos burocratas sem coração, o mineiro de West Virgínia, pego..." "Muito bem, Lisa", diz o professor. "Mas, nenhuma dessas pessoas desagradáveis estará presente no recital da semana que vem."
Trecho de um texto extraído do livro "Os Simpsons e a Filosofia".
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