segunda-feira, 26 de agosto de 2013

David Oistrakh Introduction & Rondo Capriccioso, Op 28

Texto de Dario Rodrigues Silva, extraído do site da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto





Camille Saint-Saëns - Introdução e Rondo Caprichoso Op. 28, para Violino e Orquestra

A França da virada do século XIX para o XX foi um importante centro musical, acolhendo nomes como Jules Massenet (1842 – 1912), Gabriel Fauré (1845 – 1924), Claude Debussy (1862 – 1912), Erik Satie (1866 – 1925) e Maurice Ravel (1875 – 1937), compositores fundamentais para a movimentação da vanguarda parisiense. Nesse ambiente encontramos Camille Saint-Saëns (1835 – 1921), compositor, pianista, organista e regente francês. Em vida, Saint-Saëns pôde testemunhar as mais diversas reações que suas obras provocavam, ora sendo criticado por ser conservador demais, ora por deixar o perfeccionismo e a erudição interferir na liberdade criativa de suas obras. Em contrapartida, seu temperamento não era um dos mais fáceis, pois com frequência destilava ataques ásperos aos demais compositores conterrâneos, alvejando-os por causa da maneira deliberada com que eles compunham. Estamos, então, em uma Paris cheia de contrastes: de um lado temos a vanguarda encabeçada por Debussy, que acompanhava as novas tendências que favoreciam uma estética de maior liberdade na música, e de outro, o rigor e formalidade de Saint-Saëns.

Independente dos atritos de Saint-Saëns com os demais compositores, é inegável o fato de que suas obras são representantes do mais belo melodismo francês, enriquecidas por harmonias cujas cores lembram um quadro de Monet. Sua obra Introdução e Rondo Caprichoso em Lá menor, Op.28, para violino e orquestra, é testemunha de toda essa inspiração. Composta em 1863 e dedicada ao compositor e violinista espanhol Pablo de Sarasate, que a estreou em janeiro de 1881 em Paris, é uma das mais celebradas do repertório violinístico. Houve uma forte tendência na época por parte dos compositores franceses em explorar os ritmos e o espírito das danças espanholas, assim como fez George Bizet (1838 – 1875) com sua famosa ópera Carmem, Edouard Lalo (1823 – 1892) na Sinfonia Espanhola, e Ravel ao compor a Rapsódia Espanhola. Saint-Saëns também absorveu as cores vibrantes da música espanhola na Introdução e Rondó Caprichoso.

A obra começa com uma introdução de caráter melancólico e dramático feita pelo violino, acompanhada por progressões de acordes feitas pela orquestra. Essa Introdução vai muito além da mera função de dar início à peça; ela prepara todo o cenário para os eventos seguintes, inserindo o ouvinte dentro da obra e apresentando alguns motivos melódicos e rítmicos que serão reaproveitados no decorrer da peça. Assim que a introdução acaba, com uma forte cadência do violino, imediatamente a orquestra assume um ritmo pulsante, em acordes contínuos que servirão de base para que o violino desenvolva o tema do rondó.

Musicalmente, o rondó é uma forma seccionada e que se repete, ou seja, temos um tema principal que será intercalado com temas secundários, seguindo mais ou menos o esquema ABACADA [...] – embora no caso específico dessa peça, alguns temas secundários já usados reaparecem no final – onde “A” representa o tema principal e as demais letras, os temas secundários, que geralmente são de tonalidade e caráter bem contrastantes. Saint-Saëns mostra-se um hábil melodista; os temas secundários são tão marcantes quanto o principal. O caráter cíclico e repetitivo do rondó permite um forte sentido de unidade na obra e, ao mesmo tempo, conquista o interesse do ouvinte de forma constante, devido às mudanças de ambiente entre as seções, pois ora estamos em meio a uma calorosa melodia espanhola com ritmo marcante, e em outra somos surpreendidos por melodias líricas e sedutoras. A orquestra faz participações vigorosas entre as seções contrastantes, assinalando a forte identidade espanhola da obra. A última aparição do tema principal surge com os instrumentos de sopro da orquestra ao invés do violino, iniciando-se com os oboés, e depois caminhando com as flautas e clarinetes, preparando o solista para uma pequena cadência solo, a qual conduz para a coda, que finaliza a peça de maneira apoteótica.

A obra é tão cativante que até mesmo Debussy – o qual condenava severamente o conservadorismo de Saint-Saëns – se ocupou de fazer uma versão para dois pianos, publicada em 1888 em Paris. É uma obra que mexe com todos nossos sentidos, tanto pelo sensualismo melódico e rítmico provenientes da influência espanhola, quanto pelas cores vibrantes do vocabulário harmônico francês, numa incrível mescla de sotaques que dialogam perfeitamente.

Dario Rodrigues Silva

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